Estudo Dirigido

Questões:

1) Quais as principais características da relação psicologia e educação?

A relação entre psicologia e educação é assimétrica, desarmônica. Em relação à educação, a psicologia veio ocupando um espaço que muitas vezes ultrapassa seu limite de conhecimento e competência. A pedagogia sempre buscou outras áreas de conhecimento que auxiliassem na compreensão do fenômeno educativo, mas não houve um cuidado para que esses relacionamentos não fossem superestimados. Dessa forma, algumas áreas de conhecimento passaram a funcionar como soluções últimas e miraculosas para certos problemas acadêmicos, ou pior, foram encaradas como autoridades absolutas. Por lidar com questões relacionadas à aprendizagem e ao comportamento humano, a psicologia serviu como fonte de conhecimento importante para lidar com aspectos do fenômeno educativo. Apesar disso, por não ter tido grande eficácia ao lidar com questões consideradas fundamentais como o fracasso escolar e a melhora da performance de crianças na escola, a psicologia vem perdendo espaço para a medicina, principalmente em se tratando da “ patologização” do não- aprender. A antropologia também tem aumentado sua contribuição na área da educação na medida em que se tem que a consideração da cultura e sua expressão na escola poderia servir como um facilitador da aprendizagem.

Ao se tratar da relação Psicologia-Pedagogia no Brasil, é importante ressaltar ainda que ela não surgiu através de uma problematização da realidade brasileira, tendo havido a importação de um modelo educacional norte-americano. Outra observação que se pode fazer a tal processo de transposição refere-se à alteração dos textos originais, podendo abrir um viés interpretativo errôneo do material a uma conseqüente má aplicação.


2) Quais concepções (sujeito, desenvolvimento, aprendizagem) embasam a influência de cada uma das abordagens teóricas do conhecimento psicológico na relação com a educação?

Alguns autores e abordagens da psicologia tiveram grande influência na busca pelo conhecimento da educação, apresentando contribuições e reflexões sobre a relação entre essas duas áreas.

Uma importante contribuidora para a educação foi a Psicometria, que se utilizou de suas técnicas objetivas e experimentais, e inseriu o famoso teste de QI na área educacional, ainda bastante utilizado. Tal área preconizou medidas de inteligência, de potencialidades e das realizações efetivas da criança e do jovem.

Algumas reflexões também foram feitas sobre o nível de desenvolvimento da criança em idade escolar e sua capacidade de aprendizagem. Sobre essa relação, surgiram três diferentes teorias.

A primeira, defendida por Piaget, Binet e outros, afirma que o desenvolvimento precede a aprendizagem, ou seja, o conhecimento só ocorre se o nível deste for equivalente à idade mental da criança, caso contrário, seria inútil, já que a acriança não terá capacidade de entender o que lhe foi ensinado.

Já James defende a segunda posição teórica, e acredita que o desenvolvimento e a aprendizagem andam juntos.

Koffka e os gestaltistas, defensores da terceira teoria, que nada mais é que a relação da primeira com a segunda, acreditam que o desenvolvimento acontece a partir da aprendizagem, assim como esta depende do desenvolvimento.

Além da Psicometria, a Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento também trouxeram suas contribuições na correlação existente entre aprendizagem e desenvolvimento. Tais subáreas não conseguiram determinar um pensamento linear com a Educação, pois são conflitantes entre si além de terem apresentado reflexões voltadas para os processos do aprender e não de suas relações com as etapas do desenvolvimento.

O behaviorismo por meio da predição e controle do comportamento preconiza que a aprendizagem ocorre por condicionamento clássico e operante, não relevando os processos internos existentes. Tal pressuposto enfraqueceu a força da abordagem na linha de entendimento aprendizagem-desenvolvimento.

A Psicologia Cognitiva passa a ter um maior espaço frente ao enfraquecimento do Behaviorismo, inserindo em seu objeto de estudo os processos internos não considerados pelos behavioristas.

Posteriormente a Psicologia Cognitiva, Piaget desenvolve a dialética aprendizagem-desenvolvimento de forma mais ampla, considerando que as aquisições cognitivas são obtidas em função do processo de adaptação do indivíduo ao seu meio. A Psicologia Cognitiva Social complementa tal ideia inserindo ao conceito citado anteriormente os fatores afetivos e emocionais do sujeito. Para esta última abordagem a interação social tem um papel definitivo no desenvolvimento cognitivo do indivíduo; a situação de confronto com o conhecimento do outro provoca um conflito que impulsiona a dinâmica do desenvolvimento cognitivo.


Este estudo foi feito pelas alunas Denise Clésia, Lígia Carvalho Libâneo Francisca Juliana, Jéssica Azevêdo, Melissa Castro e Sheila Rocha.

Tirinha


Essa tirinha circulou muito por e-mail em 2009. Acho que ela representa realmente bem um fato verificável atualmente na sociedade em diversos contextos, que acaba por se refletir também na escola: a subjugação dos pais pelos filhos. Apesar dessa lógica a meu ver incorreta, hoje em dia os pais têm medo da rejeição dos filhos, de dizer "não", de impor limites. Os filhos generalizam essa falta de limites vivenciada em casa para outros ambientes, como a escola. Lá, não somente desrespeitam os professores como também os desfiam, se afirmando com frases do tipo "você não manda em mim", "vocês não são meus pais" e a clássica "são meus pais que pagam o seu salário". Alguns pais, por sua vez, também querem que seus modelos de educação sem imposições sejam adotados pela escola - afinal, não se pode traumatizar o menino dando a ele uma nota baixa - e por isso se impõem, selecionam os currículos adequados ou não, opinam de forma impositiva sobre certas atividades e fazem de tudo para que a metodologia da escola não possa oferecer nenhum desapontamento ou reprovação aos seus filhos. Desse modo, muitas vezes os professores se vêem impedidos de realizar bons projetos ou sugerir ideias inovadoras, bem como ficam bastante limitados na hora de avaliar as crianças. Isso para falar apenas dos pais, sem contar os impasses entre professores e coordenadores, diretores, psicólogos escolares, psicopedagogos, órgãos responsáveis pela educação etc.

Enfim, o que desejo essencialmente por meio dessa tirinha é reforçar que a escola não pode se conduzir como uma instituição alheia ao que ocorre do lado de fora de seus muros. A escola é influenciada pela sociedade em que se insere, pelo seu tempo, sua localização e principalmente, pelos modelos políticos vigentes. Tentar escapar à esta realidade só prejudica aos maiores beneficiados pela escola: os alunos. Por isso a escola precisa, antes de tudo, assumir-se como mais um dos diversos contextos e espaços onde a criança se desenvolve, para daí elaborar, discutir e pesquisar as melhores formas de se relacionar com estes outros contextos que tanto a influenciam.

Cuidado, Escola!

ANÁLISE CRÍTICA – “CUIDADO, ESCOLA!”

Há muito que se discute o papel das escolas no desenvolvimento infantil. Fala-se sobre as práticas curriculares, formas de incentivar os alunos, programas de aulas, horários etc. Entretanto, nem sempre essa discussão é ampliada para tratar do alcance das vivências experimentadas na escola quando generalizadas para outros contextos, ou de modo semelhante, quando a escola é vista como apenas parte (importante, mas não única) dos muitos espaços de desenvolvimento com os quais a criança tem contato.

Sob essa perspectiva, a escola não deve ser tratada como contexto estanque do desenvolvimento infantil, alheio ao mundo exterior onde vive a criança. Infelizmente, nem sempre é assim que a escola é entendida. O livro “Cuidado, escola!” (Harper, Ceccon, Oliveira & Oliveira, 1985) volta a atenção do leitor para o contexto sócio-histórico em que a escola está inserida, sugerindo que através dos seus diferente métodos de ensino, a escola repete e reflete a posição política dominante de sua sociedade, bem como os valores e ideologias mais bem aceitos por ela.

É interessante notar que a proposta do livro e as reflexões que ele traz são muito pertinentes ainda atualmente, a despeito de ele ter sido publicado na década de 1980. Apesar de não ter vivido a “crise escolar” dessa época, o livro a descreve com muita clareza e é possível notar que os problemas que geravam insatisfação em professores, pais e alunos, bem como o temido “fracasso escolar” são muitos os mesmos até hoje. Percebe-se que a maior parte deles decorre da dificuldade de considerar a escola como parte da vida dos alunos que deve se integrar e se relacionar com os outros aspectos da vida do estudante.

Entendo que uma pequena porção do problema, principalmente para os professores mais velhos, está na dificuldade dos docentes de aceitarem as mudanças do lado de fora dos muros da escola, mudanças sociais, tecnológicas e culturais que se demonstram na diferença de comportamento dos alunos ao longo dos anos. Penso que muitos professores não se empenham em tentar adaptar-se aos novos interesse, formas de expressão e pensamentos dos alunos. Talvez por isso muitos estudantes não se sintam incentivados com a escola ou desgostem de algumas aulas em particular, pois não se sentem acolhidos ou compreendidos pelos professores, que possuem um mesmo estereótipo de “comportamento exemplar dos alunos” desde a época em que foram ensinados.

O professor precisa discriminar o que é interessante para a classe, quais formas de transmissão do conteúdo, demonstrações e até mesmo de linguagens diversas capturam a atenção dos alunos, e tentar trabalhar com isso de uma forma na qual não se perca a autoridade. É importante também transferir o foco do ato de ensinar para o de aprender. Apesar de este último ser, a meu ver, o objetivo essencial de qualquer professor, muitos não o exercitam na prática, julgando seu desempenho apenas pelo modo de transmissão dos ensinamentos e não considerando o quanto os alunos compreendem dessa transmissão. Dessa forma, é muito fácil transferir a culpa pelas dificuldades de aprendizado exclusivamente aos alunos...

Um dos pontos do texto que mais me intrigou foi a descrição de como os alunos são precocemente, ao seis ou sete anos, acorrentados à carteira, onde passam boa parte da sua vida em uma mesma posição, tentando aprender os conteúdo em uma pose um tanto desconfortável, além de prejudicial à coluna. Isso é preocupante especialmente para os mais jovens, que estão em fase de desenvolvimento físico e cheios de energia borbulhando para ser liberada. É um aspecto simples da dinâmica escolar e de fácil solução, que pode, entretanto, fazer enorme diferença na motivação dos alunos.

Outro ponto trazido pelo texto que julguei de importante discussão é o que diz respeito à forma de trabalho na escola predominantemente individualista. Os alunos são estimulados com mais frequência a pensarem e estudarem sozinhos do que em grupo. Esse funcionamento também vale para as avaliações, prioritariamente individuais.

A falta de maior contato com os colegas de classe e com o próprio professor durante a aprendizagem mostra que muitas escolas não tomaram consciência da importância do trabalho na zona de desenvolvimento proximal descrita por Vigotski (Vigotski, 2007). De acordo com essa ideia, seria muito válido o trabalho em equipe, assim como as avaliações que contassem com a ajuda do professor, uma vez que a aprendizagem é mais rápida e eficaz se o ensino foi feito por meio de mediações sociais nas quais participaram instrutores mais experientes. Seria muito interessante também, a meu ver, que houvesse mais trabalhos práticos na escola, envolvendo experiências palpáveis que demonstrassem na realidade os conteúdos que em geral são estudados apenas em teoria nos livros.

A escola muitas vezes rejeita a importância do desenvolvimento crítico dos alunos, testando a capacidade que eles têm em assimilar os conteúdos, mas raramente analisando como interpretam e criticam tais conceitos. Acredito que a escola moderna deve incentivar a participação dos alunos em discussões, seminários etc, bem como estimulá-los a pensar sobre o que está sendo aprendido, e não simplesmente a decorar a matéria.

O ideal seria que as avaliações conectassem os conteúdos de diferentes matérias para que o aluno tivesse uma visão global dos ensinamentos, e que contivessem questões que permitissem aos alunos opinar sobre o que aprendem. Afinal, ao saírem da escola, as opiniões dos estudantes como cidadãos e suas capacidades criativas também serão necessárias, em certas áreas mais até do que o conhecimento formal. Ademais, quando chegam à universidade os alunos se deparam com uma grande cobrança do desenvolvimento do senso crítico, e muitos deles encontram dificuldades de se expressar e elaborar os conteúdos, pois não foram devidamente preparados para tanto na escola. O mesmo pensamento é válido para o estímulo à criatividade, inventividade, à liberdade de expressar-se de diferentes formas; as chamadas habilidades transversais, muito pouco valorizadas pela escola, porém de extrema importância para a vida diária dos alunos.

Concordo com a conclusão de que as escolas estão repetindo entre quatro paredes um modelo político de desigualdade social, em que alguns poucos são favorecidos com boas condições de ensino em detrimento de muitos que não serão selecionados e nem mesmo incentivados a levar seus estudos adiante. Não se pode esperar que esse padrão social mude para que a escola o mimetise e enfim, progrida.

Evidentemente, para muitos de nossos governantes não é interessante investir na democratização do acesso à escola ou no progresso do ensino. Por isso é necessário convocar todos os envolvidos com a escola à mudança, a começar pelos professores. Esse sistema ultrapassado precisa ser modificado de dentro para fora, do contrário a escola será sempre refém do Estado.

Por fim, penso que é crucial que a escola comece a relativizar o sucesso e o fracasso escolar. É necessário entender que os alunos jamais apresentariam níveis exatamente iguais de compreensão e aprendizagem. Esses “níveis” variam enormemente em diferentes matérias, diferentes contextos, ou de acordo com a forma de demonstrá-los. Cada estudante tem dificuldade em algum ponto e facilidade em outro. Principalmente, cada estudante tem um ritmo diferente de aprendizagem e cada um deles tem uma forma só sua de estudar que promove o melhor aprendizado possível, que nem sempre é a utilizada pela maioria ou a que os professores entendem como a melhor. Acredito que a escola dará um salto enorme no cumprimento dos seus objetivos quando essas diferenças forem respeitadas.

Referências:

HARPER, BABETTE., CECCON, CLAUDIUS., OLIVEIRA, MIGUEL DARCY DE. & OLIVEIRA, DARCY ROSISKA DE. (1985). Cuidado, escola!. São Paulo. Brasiliense.

VIGOTSKI, L. S. (2007). A formação social da mente. São Paulo. Martins Fontes.

Apresentação


Olá!
Seja bem vindo ao Quadro Negro! Este é um blog que armazena meu portfólio, uma das atividades que fazem parte da disciplina de Psciologia Escolar, da Universidade de Brasília (UnB). Sinta-se em casa, ou talvez, na escola. =D