Em uma das atividades desse semestre, meu grupo de trabalho - Denise Clésia, Lígia Carvalho Libâneo, Francisca Juliana, Jéssica Azevêdo, Melissa Castro e eu - reproduzimos um experimento feito por Alexander Luria sob supervisão de Vygotsky em meados da década de 1930. O experimento foi originalmente feito com a população de aldeias nômades do Uzbekistão e da Kirgizia e tratava de temas como percepção, memória, resolução de problemas etc. Nosso grupo tratou especificamente dos temas dedução e inferência. Para tanto, apresentamos dois tipos de silogismos aos 11 participantes da nossa investigação, um deles representado com uma figura cotidiana (carro), e outro com símbolos alheios a realidade e cultura brasileira (neve e urso polar).
O silogismo é um dos mecanismos objetivos que surgem no processo de desenvolvimento da atividade cognitiva. Um exemplo de silogismo é:
“Metais precisos não enferrujam (julgamento geral). O ouro é um metal precioso (proposição particular). O ouro enferruja?”
Quando uma pessoa possui um aparato lógico complexo e bem desenvolvido é possível que conclusões sejam tiradas a partir de premissas dadas sem ter de recorrer à experiência gráfico-funcional, ou seja, mesmo que a pessoa não tenha tido contado físico ou direto com aquela realidade. Portanto, o objetivo de nossa investigação foi mostrar como ocorria o processo de inferência a partir de silogismos, observando se as pessoas seriam ou não capazes de responder corretamente aos silogismos apresentados, mesmo àquele que tratava de uma situação não inserida em suas realidades.
Os silogismos apresentados por nós foram:
Todos os carros têm pneus.
Camaro é um carro. Camaro tem pneus?
e
No Norte onde tem neve, todos os ursos são brancos. Alasca fica no Norte e lá sempre neva. De que cor são os ursos lá?
Adotou-se o seguinte procedimento: apresentava-se um silogismo completo, solicitava-se que o participante repetisse o silogismo e em seguida que desse a resposta a questão do silogismo.
Dentre 11 participantes de sexos e escolaridades variadas, apenas uma partipante não conseguiu responder corretamente ao silogismo do urso polar - distante de sua realidade. Porém ela e todos os demais responderam corretamente, mesmo que não de imediato, aos silogismo do carro - elemento comum e rotineiro em nossa sociedade.
Sugerimos que o fato da participante que não respondeu ao silogismo do urso corretamente ser analfabeta funcional explica em parte a sua dificuldade de formação do pensamento lógico abstrato. Luria verificou que o grau de escolaridade das pessoas em linhas gerais correlacionava-se positivamente com a capacidade de abstração e com o desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
A despeito de nossa investigação ter uma série de características - temporais, de composição da amostra, de procedimento, entre outras - que a diferenciava do experimento originalmente conduzido por Luria, foi muito interessante observar na prática que o pensamento lógico abstrato que para nós parece tão simples pode ser pouquíssimo desenvolvido por falta da devida estimulação. Ficamos extasiadas com essa constatação de maneira tão nítida, discutimos muito a respeito e gostamos de verdade de conduzir o experimento. Esse tipo de trabalho, na minha opinião, é muito mais proveitoso que a simples leitura dos resultados de alguma pesquisa, e faz com que internalizemos os novos conhecimentos advindos dos resultados dela de maneira mais segura e marcante.
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