No filme Mentes Perigosas vemos uma professora tentando ensinar uma classe “especial” de alunos montada pela escola na qual foi contratada: os chamados alunos-problema. A personagem LouAnne encara uma nova realidade ao enfrentar uma classe multi-étnica cujos alunos são desmotivados, desrespeitosos e violentos. A professora não consegue ganhar a atenção da classe por meio de métodos tradicionais, e passa então a faze uso de técnicas típicas da análise do comportamento como reforçar comportamentos adequados, deixar de reforçar os inadequados e ir aos poucos retirando os reforços arbitrários para que surja o reforço natural – no caso, o prazer de estudar, o conhecimento. Assim, a professora dá doces, balas, um jantar em um bom restaurante e um passeio no parque de diversão quando os alunos prestavam atenção a sua aula ou faziam as tarefas de casa, ou minimamente se esforçavam. Aos poucos, ela vai ganhando a confiança e o respeito dos alunos, porém para tanto, ela se envolve intimamente no mundo deles, fazendo muito mais do que as atribuições de professora. Ela vai a casa de alguns alunos, procura conversar com suas famílias e chega ao ponto de abrigar um de seus pupilos em sua casa, pois ele estava ameaçado de morte. Com esse mergulho, ela percebe a realidade triste dos alunos que vivem em condições precárias de segurança, extremamente vulneráveis, alvos fáceis de traficantes e bandidos e com escassos recursos materiais. Ao se deparar com a história de vida dos alunos e com o contexto em que cresceram, será que é possível culpá-los indiscriminadamente por sua rebeldia, seu jeito agressivo e pela falta de interesse nos estudos? Afinal, a maioria deles não tinha nenhum exemplo, nenhum modelo próximo a suas realidades que tivesse sido bem sucedido por meio dos estudos. A psicologia sócio-histórica nos alerta para a importância de considerar a cultura e o contexto em que se desenvolve o indivíduo. Cada aluno é único e tem um repertório vastíssimo de experiências com uma rede social específica que auxiliou no seu desenvolvimento. LouAnne, diferentemente de muitos professores, se atenta a esses aspectos anteriores à escola, e com essa estratégia obtém excelentes resultados para uma turma até então abandonada. No entanto, pode-se questionar se ela não tomou para si muito mais obrigações do que deveria e até do que podia, tendo que tornar-se uma super-heroína para dar conta de todos os problemas da turma. Até onde vão as atribuições do professor? Vemos claramente no filme um sistema de ensino precariamente organizado e limitadíssimo pelas regras da secretaria de educação, muitas delas absolutamente incoerentes. O filme para mim foi um exemplo claríssimo da necessidade da presença de um (ou mais) psicólogo escolar na escola, inserido mesmo no ambiente dela, podendo avaliar com clareza sua dinâmica, conhecer os alunos, os professores e junto a eles promover um trabalho que enfatizasse as potencialidades dos alunos, não seus comprometimentos, reduzisse a segregação entre os alunos “bons” e os “ruins”, estimulasse o diálogo entre os professores e dos professores com os alunos, mobilizasse a luta frente às regras ilógicas da secretaria de educação entre tantas outras melhorias, obviamente, tudo isso muito, muito aos poucos. Mas a escola precisa desse agente que possa ser o mediador entre seus diversos entes, que possa principalmente escutá-los, dar voz a suas demandas de tal forma que a escola possa privilegiar ao máximo o fornecimento do seu produto que é o seu grande objetivo e maior bem: o conhecimento dos alunos.
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