Registro de duas experiências da vida escolar - uma positiva, outra negativa.
Experiência positiva:
Aos oito anos, na segunda série, a professora pediu que cada aluno da classe escrevesse uma poesia sobre o tema "amizade" em homenagem ao dia do amigo. Nós tinhamos aprendido recentemente o que era uma poesia e íamos exercitar o conhecimento através dessa atividade. A maioria dos alunos escreveu quatro ou cinco linhas, eu escrevi onze! Cheias de erros de português, é claro, mas cheias do "conteúdo" que estava a meu alcance. A professora passou por cada carteira lendo as poesias. Quando chegou na minha, ao final da leitura, ela me levantou da cadeira em um abraço, disse que minha poesia estava ótima e que ela estava muito orgulhosa de mim. No dia seguinte havia cartazes reproduzindo minha poesia por toda a escola. Eu nunca tinha me sentido tão inteligente, motivada, muito feliz! Desde esse dia comecei a produzir poesias e nunca mais parei.
Experiência negativa:
Aos doze anos, na sexta série, um colega tinha o hábito de me importunar, não sei porque. Bem, ele fazia isso com todos, na realidade, mas principalmente comigo, talvez por eu ser a mais quietinha e tímida. Um dia ele pediu minha borracha emprestada e eu não dei, disse para pedir a de outra pessoa ou comprar uma logo. Ele vivia pedindo os materias dos colegas emprestado e nunca devolvia. Eu já tinha perdido uma borracha e alguns lápis para ele. Ele ficou furioso com meu aparente "desafio", levantou da sua carteira e foi até mim muito sério e ameaçador "não vai me emprestar?". Eu disse simplesmente "não". Ele passou para trás da minha carteira e começou a apertar meu pescoço, de costa pra mim. Eu gritei para ele parar, tentei fazer sinal para a professora, mas a sala estava em uma atividade de grupo, uma bagunça, todo mundo falando alto, ninguém me ouviu além das minhas colegas de grupo que começaram a gritar por socorro e tentar tirar as mãos dele do meu pescoço. Ele não estava me enforcando de verdade, eu conseguia respirar, mas ele estava me machucando e eu já tinha gritado e muito para ele me largar. Tudo isso aconteceu muito rapidamente, até que eu vi minha lapiseira com uma pontinha de grafite para fora na minha mão. Não tive dúvida: mirei a lapiseira com toda a força na mão que apertava meu pescoço. Ela fez um pequeno furinho na mão dele, ele gritou e me largou. Olhou com raiva para mim e saiu correndo da sala. Ele não voltou até a aula seguinte, escoltado por um '"bedel" que anunciou que a aluna Sheila era esperada na coodenação. Eu me levantei e fui, morta de medo, nunca tinha sido chamada na cordenação. Chegando lá a coordenadora que me esperava nem se deu ao trabalho de se levantar da cadeira ou pedir para eu sentar para que conversássemos. Ela simplesmente disse "eu vi o que você fiz com o fulano de tal. Um absurdo! Você viu que você o machucou? Eu não gostei NEM UM POUCO do que a senhorita fez, nem um pouco, e se isso se repetir você vai tomar uma advertência". Eu já estava chorando, mas tive coragem para perguntar "eu posso falar o que aconteceu?". Ela respondeu "eu VI o que aconteceu e já disse que de outra vez você toma advertência. Agora vá já para sua sala que está perdendo a aula. JÁ PRA SALA!"e foi me empurrando para fora. Eu continuei chorando por um tempo, não fui direto para a sala, fui para o banheiro chorar. Me senti completamente injustiçada. Foi uma sensação horrível. O pior foi que não contei a meus pais o que tinha acontecido, senão anos depois. Tive medo de meus pais irem a escola para reclamar e eu sofrer retaliações. Tive muito medo de ser novamente atacada por aquele colega.
As minhas duas experiências fizeram mais uma vez que eu refetisse sobre a importância da atuação consciente de professores, coordenadores, psicólogos escolares e toda a equipe da escola, pois um momento de inobservância ou um momento de elogio podem ser a chave para o desenvolvimento de um aluno brilhante, ou de um trauma. Especialmente quando se é jovem, quanto mais criança se é, mais a opinião dos adultos é levada muito a sério. Ver um adulto te elogiar, ver um professor falar que você é um novo Picasso, pode fazer toda a diferença na vida escolar e no desenvolvimento de uma pessoa. Por outro lado, veja o que a coordenadora da sexta série fez comigo. Ela não somente não ouviu uma denúncia que eu faria sobre um aluno perigoso, que impotunava e brigava com a classe inteira, como me deixou desprotegida frente a ele, e ainda me sintindo culpada pelo que fiz exclusivamente em minha defesa. Aí deveria entrar fortemente o trabalho do psicólogo escolar. Não somente para ouvir essa aluna tímida com um problema e esse aluno brigão, mas para orientar a ação de professores e coordenadores, trabalhar junto a eles, investigar a situação desses alunos. MAS, não havia psicólogo escolar na minha escola... E se houvesse, será que ele teria feito o "certo"?
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